quarta-feira, 22 de julho de 2009

O tradutor de japonês


Tocou um tremendo rebuliço na secretaria de governo da pacata Atrofiadinha da Beira Mar, cidadezinha fora do mapa e fora das estatísticas do IBGE. É que o executivo municipal recebera uma carta, ao que parece, do governo japonês escrita no idioma lá deles.
O único que sabia uma outra língua - e não era a japonesa - na pequena cidade era o doutor Carmininho de seu Nunuca, mas era da oposição, e nem era doutor, era só bacharel em direito, mas como estudara numa faculdade que funcionava aos sábados, não conseguia, mesmo depois de formado há cerca de dez anos, tirar a carteira da ordem dos advogados.
Corre daqui, corre dali, chegou aos ouvidos do prefeito pela copeira do gabinete, uma das poucas pessoas que realmente trabalhava, que um distinto cavalheiro, recém chegado na cidade, morara três anos no Japão. Rapidamente, um carro oficial foi mandado à casa do tal senhor e o trouxe à presença do prefeito. O senhor Koxixo Nakama pegou a carta, olhou de baixo pra cima, de cima pra baixo e fez, segundo ele, a tradução instantânea: “O embaixador japonês no Brasil está solicitando que o senhor retire a bandeira do país dele, que está na entrada da cidade. Diz ele que a bandeira está sem iluminação e, pior, ao lado da bandeira da Coréia do Norte, país beligerante com o qual o Japão não mantém relações diplomáticas, embora estejam muito próximos geograficamente e banhados pelo mesmo mar”.
O seu Koxixo, nem é preciso dizer, foi aplaudido de pé e de lambuja assumiu o lugar do agora exonerado secretário de turismo, o responsável pela lambança, que voltou para o emprego anterior, o de guia turístico na cidade vizinha.
Mas desde quando Atrofiadinha da Beira Mar, lugarejo recém emancipado, que só recebe turistas argentinos, que a visitam pensando estarem noutra cidade, poderia chamar a atenção do consulado japonês? Com esse pensamento, e de posse da tal carta, o ex-secretário rumou para a capital disposto a desmascarar o senhor Koxixo. Não deu outra. Nem o cônsul nipônico conseguiu ler a tal carta, simplesmente porque se tratava de uma receita de bolo escrita não em japonês, mas no idioma coreano.
Fulo da vida, e cheio de razão, lógico, o ex-secretário pediu uma audiência com o prefeito, mas fazia questão que estivessem presentes os mais insignes representantes da sociedade atrofiadense beira marinha – assim se denominavam os nascidos naquele lugar – pois possuía uma revelação muito importante. O prefeito o atendeu prontamente, pois a pequena cidade tinha como cultura o fazer fofoca.
Dia e hora marcados, o ex-secretário, vários membros da “alta”sociedade e vários do povo estavam reunidos numa espécie de audiência pública num dos colégios da cidade. De posse da palavra, ele disse estar ali para desmascarar o impostor que usurpara o seu lugar. E para tal, trouxera diretamente do consulado do Japão um manuscrito no idioma japonês, que deveria ser traduzido pelo atual secretário de turismo. Diante de todos, o ex-secretário pediu ao senhor Nakama que fizesse a tradução do “livrinho”.
O tal “livrinho” era um manual, com cerca de 20 páginas, de um novo modelo de tevê digital, coisa que ainda demoraria muitos anos para chegar a Atrofiada. A cartilha explicava a diferença entre as duas tevês, a digital e a analógica, e trazia algumas figuras exemplificativas, como um casal se beijando, nada demais.
O falso tradutor olhou o manual, revirou algumas páginas, voltou-se para o ex-secretário e saiu-se com essa: “O senhor devia ter mais respeito por todos aqui presentes, principalmente pelas senhoras e pelas donzelas”. Depois se dirigiu para o público afoito por um grande desenlace. “Meus amigos, o ex-secretário, respeitadas as suas limitações culturais, que todos nós temos plena e convicta ciência, deveria saber que isso aqui se trata, na verdade, de uma tradução para o japonês do Kamasutra, manual indiano de como fazer... her...com licença da palavra: sa-li-ên-cia. Vejam essas imagens”.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Quase simbiose


Não sei mais o que fazer
Passo horas a admirar o seu rosto
E o faço com muito prazer
Ai esse meu bom gosto.
.
Procuro por sinestesia
Em vez de simples observação óptica
Até arriscar-me-ia
A uma experiência simbiótica

As vezes que te vejo mal humorada
Sem dar ao menos um sorriso
Penso que está sendo mal amada
Tenho o jeito de acabar com isso

Abuso da minha licença poética
Da minha compleição raquítica
Confio demais na minha planta atlética
Da minha amizade na política.

Só você pode me tirar desse dilema
Atirando-se nos meus braços
Construiremos um novo poema
Com novos traços.


quinta-feira, 16 de julho de 2009


Alguns senadores deveriam ser cassados
outros, caçados,
não sobraria ninguém nesse senado.

Acabando com a nota de 50, com o "cafezinho", com "um qualquer", acaba a corrupção.

Tem mais gente desonesta querendo entrar na política, eles vêm aí em 2010, 2012 e sempre.

A minha maior decepção na política foi ver certos professores em certas passeatas de certos políticos. Esses porfessores são piores que eles. Os professores continuam fracos; os políticos, fords.

O Parlamento Inglês, ou até mesmo o alemão, francês, deveria comprar o passe de Sarney. Numa inversão de valores, seria o nosso Kaká. Como eles não pronunciam muito bem o português, será que pronunciariam como gostaríamos que fosse pronunciado, cocô?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Faço versos como quem pinta
Em vez de telas
Tê-la.


Chineses e americanos encolheram o mundo.
Um com a população; o outro, com a tecnologia.
Mas o que vai acabar mesmo com o mundo é a ganância de todos os povos "civilizados".


Quando chamo senador de ladrão
é porque eles não se dão o devido respeito
não fiquei abusado não
ainda tem gente dizendo que isso aqui tem jeito.

A oligarquia midiática está protegendo outros senadores. Ou só temos um ladrão no Senado?

A noite esfriou
Aqueci-me no seu pensamento
Veio a utopia.

terça-feira, 16 de junho de 2009

POEMA UTÓPICO

Quero fazer um poema onde
tudo dê certo
o coração não sofra
a censura não corte
o tempo para
o amor será líquido e certo
ninguém longe
todos perto.

No meu poema, a guerra não entrará
a mãe não chorará
o verão será em dezembro
o outono em março
o inverno em junho
a primavera em setembro.

Nos meus versos a utopia deixará de ser quimera
nos dicionários haverá revisão
nas minhas estrofes Luiz amará Maria
que amará Luiz
que gostará do que faz
que será feliz.

E no final
os pais amarão os filhos
e estes os irmãos
e todos se amarão.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Confira imagens de templos e castelos do Japão - Turismo - Made in Japan

Haiquases






Para cada linha que risco
São três que rabisco
Até em árabe eu risco
os meus arabescos.


Na grávida
Há vida
Hávida.


Meu poema não tem bula
Não é remédio que mata
Ou que cura.


Você ainda vai ver
O meu verso
Invadindo a sua tevê.


Com um jogo de ferramentas
Desmantelo esse dicionário
Faço prosa, faço poema
E ainda sobra vocabulário.


Já transformei a minha cama em leito
Com essa minha mania de poeta
Só para dar rima, até de dia me deito.

terça-feira, 9 de junho de 2009


Quem não deve, não teme

Já estava mais que arrependido de ter tomado as dores do filho numa discussão boba entre adolescentes, principalmente depois de ter descoberto que o jovem era filho do delegado da 999ª DP, campeã no quesito "desaparecimento de presos e indiciados". Dizem as más línguas que nos fundos da delegacia existe até um cemitério. Timbaúba não dormiu naquela noite, e o dia seguinte foi pior ainda. Os amigos, no intuito de gozação, pediam-lhe ora o relógio, ora outra coisa como lembrança. Para evitar não só as brincadeiras, decidiu não sair de casa até que o assunto caísse no esquecimento. Avisou à empregada: "Se algum Sérgio tocar a campainha, diga que não estou, que viajei para Belém, vou ver o Círio de Nazaré. E foi para a oficina - era eletrotécnico - terminar alguns consertos.
Solda aqui, aparafusa alí, triiiiiiiiimmmm, tocam a campainha. O susto foi tão grande que o ferro de solda caiu nos pés, queimando. Prendeu a respiração. Silêncio quase total, só se ouvia os passos da empregada indo; agora vindo.
_ E aí? quis saber.
_ Era o tal do Sérgio. Falei que o senhor foi ver o seu Ciro da dona Nazaré.
_ Círio de Nazaré, a santa padroeira de Belém, mais respeito. Deixa pra lá.
_ Se preocupe não, ele parecia enfezado mas não tava armado, tava com um alicate e uma chave de fenda.
Segundos depois, faltou energia. Timbaúba foi ver o medidor. Colado a este um bilhete: "FAVOR PROCURAR A *CERJ".
*CERJ, atual AMPLA, distribuidora de energia elétrica no interior do Estado do Rio.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Correntes


Abri o emeio e ela estava lá, mais uma vez: "Até quando vai me ignorar. Não rompa essa oração genial, criada pelos mais remotos clãs das Highlanders escocesas. Isso não é corrente, garanto. Uma senhora, no Canadá, rompeu-a e um canguru sambou no teto da Ferrari dela. Não conseguiu convencer o seguro a indenizá-la. Um norueguês comeu bacalhau estragado depois que rompeu a corrente, quero dizer oração. Você verá que coisas maravilhosas, fantásticas, acontecerão em sua vida, basta enviar para doze amigos. Não, não é possível que você não tenha doze amigos".
Ah, quié, claro que tenho doze amigos. Tenho até mais de doze, acho que tenho uns treze, quatorze amigos. Mas já ouvi todos dizerem que detestam essas correntes, melhor, "orações". Eles nem abrem. Mas, e se eu enviar? Talvez abram, afinal, amigo é até para isso. Selecionei os doze amigos e enviei a mensagem, muito bonita por sinal. Bom, a minha parte eu fiz, pensei, não serei eu a quebrar a "oração". Desliguei o computador e saí para almoçar. No restaurante recebi a primeira das "boas" notícias: "O que houve? - perguntou Rony. Todo mundo já almoçou, inclusive a Luê. Aqui, estava linda". Tudo bem, almoço sozinho, pensei. Sentei e pedi o meu prato. Aliás, só como um tipo de comida: peixe. "Acabou", disse o garçom, secamente. Comprei duas barras de cereais na esquina e voltei para o serviço. Na minha mesa um bilhete em letras garrafais: "Compareça ao departamento pessoal". Esvaziei logo as gavetas e fui, esperando pelo pior. "Aqui, seu maluco, irresponsável, quantas vezes eu te falei para não me enviar essas porcarias de correntinhas. E parece que você enviou para todo o RH e pro presidente. Sabe o que vou fazer contigo? A nossa filial na África está precisando de um gerente. Você vai pra lá" .
Bom, pelo menos não perdi o emprego e ainda poderei ver a Copa do Mundo, se não quebrar nenhuma corrente até lá.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Departamento Jurídico


Ainda procurando o seu processo, seu Eduardo?
Ainda, mas não sou o seu Eduardo, sou o filho dele, é que o processo está tão lento, mas tão lento, que o meu pai morreu e agora estou aqui, tentando resolver, pegar as coisas dele, pra guardar como recordação, tão somente.
Que absurdo, pelo amor de Deus! Me dá o número desse processo, vou resolver isso para você. Posso chamá-lo de você?
Lógico. A propósito, quem atendia ao meu pai era o seu.
Então faz tempo mesmo, o meu também morreu.
Aqui o número.
Pode me chamar de Pedro, o mesmo nome do meu pai, ou de Júnior, como todos me chamam na repartição. Epa!
O que foi, Júnior?
Tá faltando algarismos.
É que o processo é tão velho, que já ganhou mais algarismos. Não tem lugar nem para uma vírgula, mas o que eu gostaria mesmo é que não tivesse mais espaços para despachos.
O sujeito, o tal do Júnior, desapareceu atrás de uma porta, voltou, muito tempo depois, com um calhamaço nas mãos.
Tá aqui, não te falei que resolvia? Até despachei. Pedi pelo prosseguimento.
Tô vendo, a mesma coisa que os outros fizeram, e que farão todos os demais por onde esse maldito processo passar.
Então vou pedir pelo não prosseguimento.
Que tal pedir pelo indeferimento, ou pelo deferimento, ou pelo arquivamento. Isso é só um pedido de aposentadoria. Quando vocês pediram pelo prosseguimento, o meu pai prosseguiu trabalhando, mas ele queria somente o deferimento, pois já havia mais que completado o tempo dele.
Não fique nervoso, isso aqui vai melhorar, vamos informatizar tudo. O secretário já enviou o processo para o jurídico.
Como veio o despacho?
Pelo prosseguimento.

sábado, 16 de maio de 2009

Tantos



Estou um tanto quanto
jogado a um canto
enquanto o pranto
me serve de acalanto
entretanto, entre tantos cantos
levanto o manto, quebro quebrantos
desencantos, agiganto, adianto
suplanto, imanto, planto,
transplanto, replanto,
me espanto comquanto
.


Fingidor


Você se foi
o sono veio
e me pegou
não sei se durmo agora
ou aguardo a sua volta
trará novidades
dirá coisas belas
me fará ciúmes
e eu nem aí
pois na verdade
sei fingir
isso faz parte
da minha arte
um bom fingidor
esconde a dor
a transforma em riso
isso é amor
é amor
é amor.

sábado, 9 de maio de 2009




Está errada a definição para ejaculação precoce. É ejaculação involuntária. Precoce é a ejaculação que acontece entre os dez e dezessete anos.



O crime está muito organizado, toda essa gente está de parabéns: Executivo, Legislaqtivo e Judiciário.


Remédio controlado. Isso não é redundância? Pois deveria ser, só não é no Brasil, onde se compra até tarja preta sem receita.


Responda à sua mulher no gerúndio. Ao patrão, no pretérito perfeito. Aos amigos, no futuro do presente.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O escritor



Cinco minutos foi o tempo que me dei para escrever uma crônica, ou um conto.
Escrita a primeira linha, achei que as demais viriam com certa facilidade, ledo engano. Foi uma tortura só. Passaram-se os cinco minutos, dez minutos, uma hora, um dia e nada.
Eu havia voltado do médico, que me aconselhou a escrever, disse que eu posso me inspirar na minha história pessoal. “Sério”, continuou ele, “gostei desse poema”. Mas esse poema não é meu, é do Fernando Pessoa. “Mostre-me um dos seus”, pediu-me. Doutor, eu não escrevo poemas, melhor, não escrevo nada, vou começar a escrever agora, por sua única e exclusivíssima recomendação.
Foi assim. Já estou há dois dias diante do computador, nada além da primeira e solitária linha. Resolvo ligar para o meu médico, dizer pra ele que o tratamento está equivocado, que não consigo escrever, que isso está me deixando com os nervos à flor da pele, que isso está me deixando sem pele. É que quando fico nervoso começo a me escarificar. Os remédios não funcionam mais, não durmo há dois dias nessa tentativa frustrada. Já quebrei um notebook e uma máquina de escrever. Atirei o primeiro na parede; a máquina, em cima do meu cachorro, que estava me atrapalhando a... escrever, mas acho que ele estava mesmo era com fome. O coitadinho fugiu de casa e ainda não voltou. O próximo computador, vou jogar em cima do meu médico, do doutor Ubirajara Santiago Pontes de Miranda, psiquiatra e psicanalista.
Ligo pra ele. Como assim doutor, não foi o senhor que me atendeu? O senhor está num congresso em Utah, nos Estados Unidos da América? Então, quem foi que me atendeu e me receitou essa idiotice de escritor, hein!? O Maníaco das mil faces!? Filho da puta, eu nem desconfiei. E como um hospital dá alta para um sujeito louco de pedra como ele? Não deram alta!? Ele fugiu e atendeu a todos os pacientes do senhor!? O que faço agora, o que o doutor me receita? Preciso dormir, fazer as pazes com o meu cãozinho. Música? Mas eu não sei tocar nada, a não ser computador na parede!
Sempre sigo a recomendação médica. O doutor Ubirajara Santiago Pontes de Miranda voltou do congresso e disse que estou mandando muito bem na tuba, até pediu pra não levar mais nas próximas consultas. Não entendi o porquê, se ele mesmo disse que estou indo bem.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Haicais




Pomar multicor
a fruta mais saborosa
é a laranja.

No horizonte
um relâmpago brilha
clareia céu e mar.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Esquecidos




Entraram no motel pela manhã, quando a maioria está saindo. Decidiram pedir a mesma suíte da última vez. E viram que ela estava diferente, bem melhor, mais moderna, cheia de novidades. Ponto positivo. Havia desde banheira de hidromassagem até aparelhos de ginástica. Até desconfiaram se era realmente uma suíte de motel ou uma academia de ginástica. Não importava, estavam ali para comemorar alguma coisa. Aniversário de casamanto? Aniversário da mulher? O primeiro encontro? Ambos riram, pois esqueceram o que foram fazer no motel. Até lembraram, mas não faziam há tanto tempo, que nem se importaram. Ela ficou na banheira, dizia que era bom pra coluna; e ele, aos noventa e dois anos de idade, tentava levantar um alteres.

sábado, 2 de maio de 2009

Arraial do Cabo


Tens as praias mais belas
do litoral
Prainha, Praia Grande, dos Anjos
do Pontal.
Praia do Forno, Prainhas
e a Brava tão pequenina
mas de beleza divinal
tens ainda a mais perfeita
a Praia da Ilha
que todas as demais
humilha

Praias de águas quentes
mornas, cristalina.
fundo transparente,
que banham não só o corpo e
referescam nossa mente.
Que privilégio, Arraial
seu clima, embora tropical.
tem o fenômeno da ressurgência
corrente polar
que vem enriquecer
a fauna marinha do lugar.

Para Luiza, minha bailarina


Poemas de amor?
Vê se estou na esquina
Ah, faça-me o favor
Procure outro poeta, menina.

Não escrevo para aplacar dor
Minha escrita sempre desafina
Não sou médico nem doutor
E de amor não entendo patavina.

A minha raiva não é uterina
Fui criado com amor
Mas certo dia troquei o leite por nitroglicerina.

Vou mais longe, mina
Se me pegar fazendo versos de amor
Será para a minha bailarina.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Apocalíptico

Bem-vindo
Cuidado com os obstáculos:
Achaque na patrulha
Buraco no asfalto
Caca na calçada

Bem-vindo
Mas não fique doente
Faça seguro de vida
Proteja os ouvidos
Finja que não vê
Fale somente o necessário

Mas bem-vindo
Sempre recebemos bem
Afinal, esse sempre foi o nosso mal
Mesmo quando não podíamos receber
Recebíamos
Melhor: sempre deixamos nos invadir
Como no "Caminho com Maiakovsky"
Agora é tarde
O invasor frequenta a nossa casa
Engravida nossas filhas
Nos chama de tio/tia
A cada 12 meses
Sempre no nosso melhor
Nos traz a sua turma
Que baixa aqui
E fica Baixada

Bem findo.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

(In) Feliz aniversário, Arraial do Cabo

Quantas desmazelas
Minha bela
Tiram tudo de ti
Nada te dão em troca
És orgulho de uma nação
Não são poucos os filhos
Que têm vergonha de ti
Justamente os que nada te dão em troca
Só vantagens levam
Raros filhos te protegem
Raros filhos teus são teus cidadãos
Muitos sequer pagam impostos
Necessários para a tua sobrevivência
Outros tantos te emporcalham
A maioria te enfeiam com porcas construções
Que ferem gabaritos e o bom senso
Sem contar aqueles que te roubam às escancaras
Se aproxima o teu aniversário
Nada a comemorar
Se uma cidade tivesse escolha
Certamente escolherias outros filhos
Escolheria voltar no tempo
Tantos anos quantos os que fazes nesse
13 de maio de 2009.
Eu, se fosse tu, voltaria 600 anos.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Reflexo
Todos os dias eu me desafio.
Abusado que sou, há dias que desafio o próprio dia.
Aí vem a noite.
Não, tenho coragem mas nem tanto,
Sou incapaz de desafiar a noite.
Tenho medo, e não é pouco, de não ver um novo dia.
Quanta bobagem, diria.
A noite nada mais é que o alongar de um dia.
Tenho medo mesmo é das sombras.
Melhor, da falta delas, da falta da minha sombra.
Numa noite escura, um homem sem sombra.
Um homem diante do espelho, sem a sua imagem.
É esse o meu medo.
Olhar o espelho é um desafio.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Cadê a picape?

O sujeito parou ao lado do carro e tirou o aviso preso ao limpador. O anotador chegou e disse:
_ Bom dia, o senhor excedeu os dez minutos "de grátis".
_ Quanto é?
_ "Dois real".
_ Eu até pagaria, mas o carro está riscado no paralama. Olhe.
_ Chefia, a prefeitura só cobra o estacionamento, não vigiamos os "veíclos".
_ Mas deveriam. Olha só o prejuízo. Você tem idéia do valor para reparar esse riscado enorme?
_ Não, "sinhor", não tenho. Nem tenho carro, ganho muito pouco aqui, o que ganho não dá nem pr comprá "bicicreta", que dirá carro importado.
_ Pois é, não vou pagar nem um centavo.
O anotador pega o celular e liga para a guarda municipal. Que logo chega.
_ Bom dia, em que podemos ajudá-lo?
O anotador conta a história.
_ Mas quem nos garante que o carro foi riscado aqui?
– pergunta o guarda ao sujeito.
_ Falou bem, daí que eu acho que vocês deveriam ter uma câmera fotográfica, ou uma filmadora em DVD, para ter essa garantia. Assim vocês se resguardariam de quaisquer problemas.
_ Bom, ainda não temos toda essa tecnologia, e fica anotada aqui a sua sugestão. Mas agora o senhor terá que pagar um real ou rebocaremos o veículo. E a multa aqui no município é a mais alta do Brasil, sem contar a diária do depósito, que não é nada barata.
_ Pois podem rebocar, multar e depositar, vou discutir na justiça.
_ Sim, mas antes gostaria de ver os documentos do veículo e os seus documentos. Conheço uma historinha parecida com essa onde, no final, o carro não era de quem discutia com o guarda.
O sujeito apresentou os documentos, e o carro foi mesmo rebocado para o depósito público. O camarada ficou lá no local, como se nada tivesse acontecido . Minutos depois chega a sua mulher, que estava no cartório.
_ Pronto, já averbei a certidão de casamento. Estamos finalmente divorciados. Estou livre de você, sua peste miserável, e já passei a picape para o meu nome... a picape... cadê a picape?!

domingo, 29 de março de 2009

Evolução

Evolução

Sim, estamos evoluindo
Já, já descobriremos a cura para o câncer
Um carro mais veloz
Um coração metálico
Um inseticida mais feroz
Capaz de matar não só insetos
Gozaremos até mais
Teremos corpos perfeitos
Inteligência demais
Descobriremos que Deus não existe
Pois estaremos abandonados
Entregues à própria sorte
Ou ao próprio azar
À sorte do outro
Aos azares dos outros
Vamos fazer essa Terra ficar quadrada
Medonha
Moldada como barro
E ao avistá-la de outra galáxia
O Arqueólogo dirá:
Ali jaz um povo atrasado.

sábado, 21 de março de 2009




Os velhinhos
Os motoristas dessa cidade não costumam parar nos cruzamentos e nem nas faixas. Acho isso uma falta de respeito, principalmente quando se trata de idosos, gestantes e crianças. Eu sempre paro, como parei ontem, por volta das 18 horas, para um casal de idosos. Tão lindos, mãos dadas, lembrei dos meus avós, não pelas mãos dadas, mas por que não os tenho mais. Continuando, foi naquele cruzamento atrás da igreja, em frente à padaria. Parei a minha picape e fiquei esperando a dupla de velhinhos passar lentamente. No DVD um som do Claude Debussy, Nelson Freire ao piano. Os velhinhos passaram. Impressão minha ou eles não agredeceram? Não, não agradeceram. Saí cantando pneus e dei a volta no quarteirão. Novo cruzamento. Lá vem o casal. Tirei Nelson/Debussy e sintonizei uma rádio local. Tocava funk proibidão. Os velhinhos vinham. Mãos dadas. Reduzi a marcha. Os velhinhos eram tão unidos que colocaram ao mesmo tempo os pés na faixa de pedestre. Mas nessa cidade os motoristas não param nem na faixa de pedestres.





Eu vi hoje pela manhã uma linda camisa do Fluminense Futebol Clube
Que morena
Que pernas bem torneadas
Que olhos verde-água-do-mar-de-Arraial do Cabo
Cabelos encaracolados
Seios que mais pareciam duas ameixas-do pará
Uma cinturinha - se ainda existe o termo - de pilão
Ah se eu não fosse vascaíno há tanto tempo!

sexta-feira, 20 de março de 2009






Na Grande Belém
À sombra da mangueira
Deixei o meu bem.

_____________


Se um dia voltar
À Sacramenta é para
Sacralamentar



Metade de mim
ficou em algum lugar
a outra metade vagueia por aí
sem rumo, sem destino,
até reencontrar a outra metade
ou chegar a conclusão
de que sou na verdade dois,
três, dez, ou sequer um.



A minha outra metade
me encontrou, mas não me reconheceu,
achou-me tão estranho
e disse que esse não sou eu.




Meu coração sístole Belém

Diástole Arraial

Tem dias que vai muito bem

Noutros, muito mal

Em Praia Grande choro Guajará

Quem sabe minhas lágrimas formam um rio

E eu esqueço Belém do PARÁ.


....................................................


Senti daqui

o cheiro de patchuli

Lógico que isso é mentira

Mas a verdade é que o Pará me inspira





quarta-feira, 18 de março de 2009


É sempre o outro que nos diz que somos incompetentes.
E esperamos sempre que o outro nos diga que somos inteligentes,
quando na verdade não precisamos nem de uma nem de outra opinião,
a nossa nos basta. A verdade, em ambas as situações, não pode ser mensurada,
ou pode?

segunda-feira, 16 de março de 2009

Poeminha triste

A primeira vez que vi de ver casas sobre palafitas foi na Vila Sapo
Mas não havia sapos
O únicos bichos que sobreviviam por lá eram homens e ratos
Um deles mordeu Maria do Socorro
Que morreu Socorrinha, aos sete anos de idade
De que vale saber onde fica a Vila Sapo
Se minha Socorrinha não teve socorro?

sexta-feira, 13 de março de 2009



HAICAIS

O meu tesouro
Não é prata nem ouro
Só uma rosa


Invadi jardim
Para pegar algumas flores
Que roubaram de mim


Uma estrela
A imensidão do céu
Desabotoou rosa


Rosa na janela
Primavera chegando
Encontro marcado


Na despedida
O beijo mais doce
Curto regresso

quinta-feira, 12 de março de 2009

O gato



Começou olhando a rua do lado de cá do muro. Normal, até então.
Dias depois, estava sobre o muro. Achou aquilo muito estranho, mas ainda dava para aguentar, podia ser somente uma mania passageira, dentre tantas outras manias.Mas os dias foram se passando e agora ele caminhava sobre o muro, entre os cacos de vidro e subia no telhado e quebrava as telhas. Caso grave, pois os vizinhos já começavam a comentar. Ela mesma levou-o a um médico de cabeça, pois o mesmo resistia, dizendo não ter nada. Diagnóstico do psiquiatra: na próxima consulta pode levá-lo direto ao veterinário, mas antes passe num pet shop e corte a unha.