quarta-feira, 29 de abril de 2009

Apocalíptico

Bem-vindo
Cuidado com os obstáculos:
Achaque na patrulha
Buraco no asfalto
Caca na calçada

Bem-vindo
Mas não fique doente
Faça seguro de vida
Proteja os ouvidos
Finja que não vê
Fale somente o necessário

Mas bem-vindo
Sempre recebemos bem
Afinal, esse sempre foi o nosso mal
Mesmo quando não podíamos receber
Recebíamos
Melhor: sempre deixamos nos invadir
Como no "Caminho com Maiakovsky"
Agora é tarde
O invasor frequenta a nossa casa
Engravida nossas filhas
Nos chama de tio/tia
A cada 12 meses
Sempre no nosso melhor
Nos traz a sua turma
Que baixa aqui
E fica Baixada

Bem findo.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

(In) Feliz aniversário, Arraial do Cabo

Quantas desmazelas
Minha bela
Tiram tudo de ti
Nada te dão em troca
És orgulho de uma nação
Não são poucos os filhos
Que têm vergonha de ti
Justamente os que nada te dão em troca
Só vantagens levam
Raros filhos te protegem
Raros filhos teus são teus cidadãos
Muitos sequer pagam impostos
Necessários para a tua sobrevivência
Outros tantos te emporcalham
A maioria te enfeiam com porcas construções
Que ferem gabaritos e o bom senso
Sem contar aqueles que te roubam às escancaras
Se aproxima o teu aniversário
Nada a comemorar
Se uma cidade tivesse escolha
Certamente escolherias outros filhos
Escolheria voltar no tempo
Tantos anos quantos os que fazes nesse
13 de maio de 2009.
Eu, se fosse tu, voltaria 600 anos.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Reflexo
Todos os dias eu me desafio.
Abusado que sou, há dias que desafio o próprio dia.
Aí vem a noite.
Não, tenho coragem mas nem tanto,
Sou incapaz de desafiar a noite.
Tenho medo, e não é pouco, de não ver um novo dia.
Quanta bobagem, diria.
A noite nada mais é que o alongar de um dia.
Tenho medo mesmo é das sombras.
Melhor, da falta delas, da falta da minha sombra.
Numa noite escura, um homem sem sombra.
Um homem diante do espelho, sem a sua imagem.
É esse o meu medo.
Olhar o espelho é um desafio.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Cadê a picape?

O sujeito parou ao lado do carro e tirou o aviso preso ao limpador. O anotador chegou e disse:
_ Bom dia, o senhor excedeu os dez minutos "de grátis".
_ Quanto é?
_ "Dois real".
_ Eu até pagaria, mas o carro está riscado no paralama. Olhe.
_ Chefia, a prefeitura só cobra o estacionamento, não vigiamos os "veíclos".
_ Mas deveriam. Olha só o prejuízo. Você tem idéia do valor para reparar esse riscado enorme?
_ Não, "sinhor", não tenho. Nem tenho carro, ganho muito pouco aqui, o que ganho não dá nem pr comprá "bicicreta", que dirá carro importado.
_ Pois é, não vou pagar nem um centavo.
O anotador pega o celular e liga para a guarda municipal. Que logo chega.
_ Bom dia, em que podemos ajudá-lo?
O anotador conta a história.
_ Mas quem nos garante que o carro foi riscado aqui?
– pergunta o guarda ao sujeito.
_ Falou bem, daí que eu acho que vocês deveriam ter uma câmera fotográfica, ou uma filmadora em DVD, para ter essa garantia. Assim vocês se resguardariam de quaisquer problemas.
_ Bom, ainda não temos toda essa tecnologia, e fica anotada aqui a sua sugestão. Mas agora o senhor terá que pagar um real ou rebocaremos o veículo. E a multa aqui no município é a mais alta do Brasil, sem contar a diária do depósito, que não é nada barata.
_ Pois podem rebocar, multar e depositar, vou discutir na justiça.
_ Sim, mas antes gostaria de ver os documentos do veículo e os seus documentos. Conheço uma historinha parecida com essa onde, no final, o carro não era de quem discutia com o guarda.
O sujeito apresentou os documentos, e o carro foi mesmo rebocado para o depósito público. O camarada ficou lá no local, como se nada tivesse acontecido . Minutos depois chega a sua mulher, que estava no cartório.
_ Pronto, já averbei a certidão de casamento. Estamos finalmente divorciados. Estou livre de você, sua peste miserável, e já passei a picape para o meu nome... a picape... cadê a picape?!