quinta-feira, 7 de maio de 2009

O escritor



Cinco minutos foi o tempo que me dei para escrever uma crônica, ou um conto.
Escrita a primeira linha, achei que as demais viriam com certa facilidade, ledo engano. Foi uma tortura só. Passaram-se os cinco minutos, dez minutos, uma hora, um dia e nada.
Eu havia voltado do médico, que me aconselhou a escrever, disse que eu posso me inspirar na minha história pessoal. “Sério”, continuou ele, “gostei desse poema”. Mas esse poema não é meu, é do Fernando Pessoa. “Mostre-me um dos seus”, pediu-me. Doutor, eu não escrevo poemas, melhor, não escrevo nada, vou começar a escrever agora, por sua única e exclusivíssima recomendação.
Foi assim. Já estou há dois dias diante do computador, nada além da primeira e solitária linha. Resolvo ligar para o meu médico, dizer pra ele que o tratamento está equivocado, que não consigo escrever, que isso está me deixando com os nervos à flor da pele, que isso está me deixando sem pele. É que quando fico nervoso começo a me escarificar. Os remédios não funcionam mais, não durmo há dois dias nessa tentativa frustrada. Já quebrei um notebook e uma máquina de escrever. Atirei o primeiro na parede; a máquina, em cima do meu cachorro, que estava me atrapalhando a... escrever, mas acho que ele estava mesmo era com fome. O coitadinho fugiu de casa e ainda não voltou. O próximo computador, vou jogar em cima do meu médico, do doutor Ubirajara Santiago Pontes de Miranda, psiquiatra e psicanalista.
Ligo pra ele. Como assim doutor, não foi o senhor que me atendeu? O senhor está num congresso em Utah, nos Estados Unidos da América? Então, quem foi que me atendeu e me receitou essa idiotice de escritor, hein!? O Maníaco das mil faces!? Filho da puta, eu nem desconfiei. E como um hospital dá alta para um sujeito louco de pedra como ele? Não deram alta!? Ele fugiu e atendeu a todos os pacientes do senhor!? O que faço agora, o que o doutor me receita? Preciso dormir, fazer as pazes com o meu cãozinho. Música? Mas eu não sei tocar nada, a não ser computador na parede!
Sempre sigo a recomendação médica. O doutor Ubirajara Santiago Pontes de Miranda voltou do congresso e disse que estou mandando muito bem na tuba, até pediu pra não levar mais nas próximas consultas. Não entendi o porquê, se ele mesmo disse que estou indo bem.

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