sexta-feira, 22 de maio de 2009

Departamento Jurídico


Ainda procurando o seu processo, seu Eduardo?
Ainda, mas não sou o seu Eduardo, sou o filho dele, é que o processo está tão lento, mas tão lento, que o meu pai morreu e agora estou aqui, tentando resolver, pegar as coisas dele, pra guardar como recordação, tão somente.
Que absurdo, pelo amor de Deus! Me dá o número desse processo, vou resolver isso para você. Posso chamá-lo de você?
Lógico. A propósito, quem atendia ao meu pai era o seu.
Então faz tempo mesmo, o meu também morreu.
Aqui o número.
Pode me chamar de Pedro, o mesmo nome do meu pai, ou de Júnior, como todos me chamam na repartição. Epa!
O que foi, Júnior?
Tá faltando algarismos.
É que o processo é tão velho, que já ganhou mais algarismos. Não tem lugar nem para uma vírgula, mas o que eu gostaria mesmo é que não tivesse mais espaços para despachos.
O sujeito, o tal do Júnior, desapareceu atrás de uma porta, voltou, muito tempo depois, com um calhamaço nas mãos.
Tá aqui, não te falei que resolvia? Até despachei. Pedi pelo prosseguimento.
Tô vendo, a mesma coisa que os outros fizeram, e que farão todos os demais por onde esse maldito processo passar.
Então vou pedir pelo não prosseguimento.
Que tal pedir pelo indeferimento, ou pelo deferimento, ou pelo arquivamento. Isso é só um pedido de aposentadoria. Quando vocês pediram pelo prosseguimento, o meu pai prosseguiu trabalhando, mas ele queria somente o deferimento, pois já havia mais que completado o tempo dele.
Não fique nervoso, isso aqui vai melhorar, vamos informatizar tudo. O secretário já enviou o processo para o jurídico.
Como veio o despacho?
Pelo prosseguimento.

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